quarta-feira

Perdido em mim, procuro conforto na solidão dos outros. Sorrio ao perceber a frágil alegria da vida nos corpos desconhecidos. Nos sorrisos solitários, angustiados por encontros. Sorrio de mim mesmo, quando percebo que lá fora está meu espelho. Um lago cristalino, que como descreve Calvino, reflete a mesma imagem contrariada do que até aqui percorri. A mesma imagem com suas cores iguais, com os caminhos iguais, com os mesmos sentimentos, em oposição ao mesmo eu. Que sou contradição. Que sou tua imagem refletida. Que te deixo ser livre. Que te faço desejar ser livro. E te pertmito ser sempre páginas em branco, um terreno baldio. E quando me escondo, sentes medo da ausência da minha caligrafia torta. Porque sem mim te observando, te percebes pequeno e encolhido. Te percebes fágil igual criança. E sozinho, sem distração, sentes seu peito correndo, cantando desesperadamente, suplicando que o lado direito acolha o esquerdo, acomode. Sente seu peito dividido em dois, tentando se abraçar. E cada lágrima, ao sair dos seus olhos, não é pra fugir pra longe. Caem nas pernas inseguras e tímidas (ou elas que são inseguras e tímidas?), pedindo colo. E você, já esquecido de como ser forte, sorri timidamente. E carinhosamente, acaricia a cada uma delas, em cada uma de suas pernas. Tentando em vão guardá-las nos bolsos. Guradá-las onde ninguém consiga perceber seu choro baixinho. Seu pranto em segredo. Seu triste segredo. Um eterno coxixo para si mesmo.